– “Nem demais, nem de menos!”. Repito sempre nos cursos que ministro.
Respeitar as fases do processo de reparo e regeneração tecidual é de extrema importância. Os recursos usados nos tratamentos estéticos, dentre eles, radiofrequência, ultrassom de alta potência, carboxiterapia, luz intensa pulsada, laser de alta potência, dentre outros, são tratamentos potentes, com resultados significativos em vários distúrbios estéticos. Mas como essas modalidades de energia atuam nos tecidos?
Quando somos jovens, estímulos hormonais, em especial o GH (hormônio de crescimento), induzem à síntese de proteínas e então crescemos. Nossa pele é lisa e o corpo é saudável, a degradação proteica é sempre menor que a produção. Ao atingirmos a fase adulta, por volta dos 25 anos, o estímulo de síntese tende a se equiparar ao de degradação das proteínas promovidas pelas proteases. A partir disso, iniciamos um processo em que a produção e os hormônios tendem a diminuir, o estímulo de síntese diminui gradativamente, as enzimas de degradação aumentam sua atividade e… envelhecemos… Esse processo é inerente, todos vamos envelhecer… Mas com qual velocidade?
Sabemos que se fizermos atividade física regularmente, o processo de envelhecimento pode ser retardado. No exercício físico, para que ocorra ganho de massa muscular e remodelagem corporal, exige-se que a atividade aplicada seja sempre acima dos esforços que fazemos nas atividades de vida diária, esse método é chamado de “Princípio de Sobrecarga” por fisiologistas. A atividade intensa estimula a produção de hormônios e fatores de crescimento que promovem a produção de proteínas, porém, se o exercício é realizado em excesso, especialmente, sem intervalos de recuperação, pode ser maléfico, inclusive acelerando o processo de envelhecimento por liberação de radicais livres.
Essa analogia pode ser aplicada aos tratamentos estéticos. Quando usamos determinadas energias, estimulamos os tecidos desvitalizados a reagir e precisamos dar intervalos para que o corpo tenha tempo de resposta.
Os equipamentos usados nos tratamentos estéticos estão cada vez mais potentes, os resultados são cada vez melhores, porém, os princípios relacionados ao tempo de recuperação e resposta tecidual também devem ser respeitados. Atuamos no limite da lesão para desencadear uma resposta orgânica que chamo de “Princípio de Sobrecarga da Estética”. Um bom exemplo é quando aplicamos um peeling químico na pele, o que realmente fazemos? “Queimamos” a pele com ácidos, porém, não é uma queimadura clássica e, sim, algo controlado, modulado. Deixamos o ácido agir até determinada camada da pele, removemos e tamponamos. Essa “lesão” é subclínica, sem a intensidade dos fenômenos clássicos de um processo inflamatório, mas deve ser suficiente para ativar o processo de reparo e regeneração tecidual. Esse mecanismo ativa a principal célula da estética, o fibroblasto.
Essa célula é responsável por toda a síntese de proteínas, dentre elas, o colágeno, a elastina, a substância fundamental amorfa que preenche os espaços entre as células e estruturas que compõem a pele. O tratamento induz uma reestruturação tecidual que dá aspecto mais luminoso e jovem à pele.
E essa resposta obedece às fases de reparo e regeneração tecidual de forma similar, envolvendo diferentes tipos de células e atuação temporal delas após o tratamento, no entanto, é importante ressaltar que a figura abaixo representa uma resposta inflamatória clássica com presença de calor, rubor, dor e edema, por isso, o número relativo de células por área é alto. Nos tratamentos estéticos, essa reação é bem mais branda e, geralmente, imediatamente após a sessão, a região tratada pode apresentar aumento de temperatura, avermelhada, sensação de desconforto e ligeiro edema. Essas reações são transitórias, isto é, desaparecem após alguns minutos ou horas, mas são indícios de que foram o suficiente para desencadear o processo de reparo e regeneração que vai culminar com a ativação do fibroblasto, e esse é nosso objetivo.
Observe que imediatamente após a lesão, as células que prevalecem são inflamatórias que predominantemente produzem enzimas de degradação, que produzem fatores de crescimento que vão ativar outras células, em especial o fibroblasto, e células endoteliais para que novos vasos sanguíneos e linfáticos brotem, o pico dessa reação ocorre no 3º dia. Observe também que o ciclo de atividade do fibroblasto se inicia entre o 2º e o 3º dia, tem um pico entre o 5º e o 8º dia e decai acentuadamente por volta do 15º dia. Alguns autores colocam que essa atividade, chamada de fibroplasia, perdure até, aproximadamente, o 21º dia.
Conclusão 1: Se tratamentos potentes forem aplicados diariamente ou muito próximos, teremos predomínio de células de degradação e não de síntese.
Conclusão 2: Os intervalos devem respeitar o ciclo de atividade do colágeno que é, no mínimo, de 7 dias.
Conclusão 3: Temos que ter em mente que podemos dar o mesmo estímulo em diferentes pessoas e elas podem ter respostas diferenciadas porque a resposta tecidual é individual e dependente de fatores hormonais, nutricionais, idade, etc.
Conclusão 4: Imediatamente após o tratamento e no intervalo entre as sessões, podemos fornecer substratos, vitaminas, oligoelementos, entre outros, via dermocosméticos para melhorar a qualidade do tratamento e, assim, obter melhores resultados.
Conclusão 5: Pessoas com melhores condições nutricionais respondem muito melhor ao tratamento. A alimentação equilibrada orientada por um nutricionista, ou mesmo o uso de nutricosméticos devem ser alicerces de um bom tratamento.
Conclusão 6: Recursos que aceleram o processo de reparo e regeneração tecidual podem e devem ser utilizados entre as sessões, sempre em doses terapêuticas.
Sim! Equilíbrio e harmonia são essenciais na hora de montar um protocolo de tratamento. Conhecimentos sobre a fisiologia de reparo e regeneração tecidual também!
Como tudo na vida…Nem demais, nem de menos!